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Percussão e flauta doce: a prática musical como meio auxiliar
no processo de musicalização dos alunos do Centro de
Educação Profissional em Artes Basileu França
Lóide Magalhães
[email protected]
Resumo: Com o presente relato apresenta-se um modelo de estruturação de
atividades em aulas do Programa de Desenvolvimento das Habilidades
Artísticas do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França
(PDHA), em Goiânia-Go. Tendo como base as argumentações de Vieira, Vieira
e Leão (2004), Swanwick (2003) e Alves (2002), trabalhou-se o conceito de
construção colaborativa, em que o aluno tem acesso, não apenas às aulas
individuais de instrumento, mas ao fazer coletivo musical proporcionado pela
disciplina de percussão e flauta doce, aliadas aos conteúdos musicais. Com a
apresentação do modelo de plano de aula, procura-se analisar: 1 - os
conhecimentos adquiridos pelo aluno, através da leitura da partitura e da
prática dos conceitos teóricos abordados durante o curso; e 2 - o
desenvolvimento da musicalidade. Por fim, estabelece-se uma análise da
prática em sala de aula a partir do planejamento realizado diariamente.
Palavras-chave: Musicalização. Flauta Doce. Percussão.
INTRODUÇÃO
Este é um relato que surge a partir de observações feitas com alunos de
primeiro e segundo ano do PDHA (Programa de Desenvolvimento das
Habilidades Artísticas), do Centro de Educação Profissional em Artes Basileu
França (CEPABF). O CEPABF é uma escola de artes pública ligada à
Secretaria de Ciências e Tecnologia do Estado; que oferece cursos nas áreas
de música, teatro, dança, artes visuais e circo. Na área de música a escola
recebe anualmente cerca de mil e quinhentos alunos, ofertando as seguintes
disciplinas: instrumento individual, linguagem musical, voz e percepção,
manutenção de instrumentos, percussão e flauta doce, história da música,
harmonia, musicografia, canto coral, orquestra, banda e prática de música de
câmara.
O CEPABF iniciou suas atividades em agosto de 2001, incorporando a
antiga Escola de Artes Veiga Valle, esta criada em 23 de outubro de 1967.
Surgiu da necessidade de oferecer cursos nas áreas artísticas, em nível
profissional. Os cursos são divididos em três etapas: PDHA (Programa de
Desenvolvimento das Habilidades Artísticas), com duração de três anos; FIC
(Formação Inicial e Continuada), com duração de dois anos; e o Técnico, com
duração de três anos.
As disciplinas coletivas são distribuídas da seguinte forma:
a) PDHA (Programa de Desenvolvimento das Habilidades Artísticas)
• Primeiro e segundo ano: percussão e flauta doce, voz e
percepção e linguagem musical;
• Terceiro ano: linguagem musical e manutenção de instrumento.
b) FIC (Formação Inicial e Continuada)
• Primeiro ano: linguagem musical e historia da musica;
• Segundo ano: linguagem musical e pratica de conjunto.
c) Curso técnico de nível médio: harmonia, história da música,
musicografia, análise musical entre outras.
A prática de conjunto é optativa em todos os anos com exceção do FIC II e
curso técnico. Estão inclusos nessa pratica de conjunto os corais, as bandas e
as orquestras.
Com o crescente interesse nos cursos de música oferecidos pelo
CEPABF, o corpo docente junto com a direção da escola sentiu a necessidade
de reformular o programa de musicalização, visando melhorar o nível de
aprendizado. A disciplina de Percussão e Flauta Doce foi criada com o intuito
de reforçar o aprendizado teórico da linguagem musical, promover a música de
conjunto, estudar ritmos brasileiros e oportunizar aos alunos o contato imediato
com o palco. Essa disciplina é ministrada com dois professores, sendo um
percussionista e um professor de flauta.
ORGANIZAÇÃO DA DISCIPLINA DE PERCUSSÃO E FLAUTA DOCE
Vieira, Vieira e Leão (2004) observaram que através de um
planejamento de integração das artes e da sistematização do trabalho conduzido,
o desenvolvimento das crianças, – quanto à alfabetização musical (conhecimento
básico), o tocar um instrumento (flauta doce) –, foram significativos. Segundo os
autores, no final do curso as crianças compunham pequenos trechos,
improvisavam a partir de dois e três sons, e identificavam as notas musicais, com
aprimoramento da acuidade auditiva dos intervalos da escala de Dó maior;
atendendo ao objetivo de vivenciar a música:
...no estudo das artes plásticas, dois sujeitos ganharam primeiro
lugar em concurso de artes inscritas pelas suas mães e três
crianças na faixa etária de 3, 4 e 5 anos, se destacaram no
recital final do curso, com uma pequena composição de flauta
doce e apresentação de duetos, compostas por elas mesmas,
atendendo ao objetivo nº 3, que era o de integrar as atividades
musicais à outras atividades de literatura infantil, artes plásticas
e cênicas. Os sujeitos de 3 e 4 anos chegaram ao final do ano
com pouca habilidade de escrita musical, mas com
conhecimento visual e reconhecimento perceptivo de frases
musicais, células rítmicas, compassos binário, ternário e
quaternário. Os sujeitos de 5 e 6 anos se identificaram com um
instrumento: bateria, guitarra, teclado e piano e se apresentaram
em recitais posteriores, atendendo aos objetivos nos 2, 4 e 6
(VIEIRA, et all, p.49, 2004)
A importância do planejamento da disciplina de música pode ser
observada em Alves (2002):
[....] Se assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino
que o ensino da música deveria se chamar ‘’dorremizar’’:
aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas a música
aparece! Posso imaginar então uma aula de iniciação musical
em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência
do professor, na esperança de que, da repetição das notas, a
música aparecesse. [...] (ALVES, p.40)
Acredita-se que o conhecimento ocorre quando vivenciado num
ambiente prazeroso. Ler nome de notas ou tocar células rítmicas sem o prazer
do fazer musical dificulta o processo de aprendizado. A magia de tocar uma
música, de interagir, de experimentar, criar e vivenciar despertará no aluno o
prazer e a fixação do conteúdo musical, além de promover a socialização,
desenvolvimento perceptivo, cognitivo, motor e psíquico. Swanwick (2003)
definiu a prática coletiva musical da seguinte forma: “Os alunos, em pequenos
grupos, trarão suas próprias interpretações e tomarão suas próprias decisões
musicais em muitos níveis. Eles começarão a se ‘’apropriar’’ da música por eles
mesmos (p.67)”.
Considerando a prática de conjunto um fator importantíssimo para a
formação musical do aluno, o curso de percussão e flauta doce tem por
objetivo proporcionar o desenvolvimento musical, através da execução de
peças cuidadosamente escolhidas, que atendam ao nível de linguagem musical
teórico planejado para o curso.
As aulas de percussão e flauta doce tem
duração de sessenta minutos. Os alunos tocam os dois instrumentos durante a
aula: num primeiro momento é feita a leitura na flauta, seguida da percussão; e,
no final, a sala é dividida em grupos que irão alternar os instrumentos.
O canto é parte essencial da aula. Durante o estudo da peça, faz-se
primeiro o solfejo; depois, os momentos de improvisação que podem ser
corporal ou instrumental; e por fim, a leitura da peça com a flauta e a
percussão. O aluno é incentivado a ler todas as partes.
O curso tem sua estruturação baseada na introdução de conceitos
básicos necessários à formação do aluno de música.
O conteúdo básico
teórico musical é definido anualmente; e, a cada ano, escolhe-se um novo
repertório que inclui canções de gêneros variados. Os parâmetros usados para
a escolha das músicas dependem do conteúdo teórico, incluso no programa de
primeiro e segundo ano do PDHA. Logo após a definição das músicas, elaborase uma apostila.
Para introdução da flauta doce usa-se o que Taets, (2012), definida
como posição aberta; que é aquela em que o aluno inicia usando apenas o
polegar e o indicador. As notas usadas para iniciar o aluno na flauta é o si 3,
seguidas pelas notas lá 3 sol 3, dó 4, ré 4. Depois, apresentam-se as notas fá,
mi, ré e dó 3 e assim por diante. Esse método de iniciação à flauta doce é
utilizado pelos seguintes autores: Ernst Mahle, As melodias da Cecília - flauta
doce ou oboé e piano, Irmãos Vitale (1972); Mário Mascarenhas, Minha flauta
doce volume I e II, Editora Vitale (1977); Eliane Marzullo, Musicalização nas
escolas, Editora Vozes (2001); Isolde Mohr Frank, Método para flauta doce
soprano, Editora Ricordi (1976); Maria Aparecida Mahle, Meu primeiro caderno
de flauta block, Editora Vitale (1959); René Clemencic, Grundchule fur die
sopran - blockflote, Editora Universal (1967); Helle Tirler, Vamos tocar flauta
doce, Editora Sinodal (1992); Judith Akoschky e Mário A. Videla, Inicion a la
flauta Dulce, Editora Ricordi Americana; Carmen Maria Metting Rocha,
Indicando a flauta doce (1986). A utilização da flauta doce nesse processo de
musicalização se justifica pelo seu baixo custo se comparado a outros
instrumentos como, por exemplo, o violão e o teclado. Hoje uma flauta doce
Yamaha custa por volta de 25,00. Já um violão para estudante da marca
Memphis custa em torno de 176,00. Além do custo, transportar uma flauta doce
é mais fácil, visto que a maioria de nossos alunos utiliza como meio de
transporte o ônibus coletivo. Outro aspecto dessa disciplina é oferecer aos
alunos um contato com a música de conjunto, já que a grande maioria de
nossos alunos iniciantes fazem apenas as aulas individuais de instrumentos.
Ao longo dos anos foi observado que os alunos que fazem música de conjunto,
têm mais facilidade de ler, identificar a altura dos sons e compreender os
aspectos teóricos, além de diminuir a evasão escolar.
A ESCOLHA DO MATÉRIAL DIDÁTICO
Para a elaboração do material didático são feitas reuniões de discussão
entre os professores da matéria, e com ajuda do programa da disciplina de
linguagem musical, escolhemos as canções que podem ser folclóricas,
populares ou eruditas. O exemplo apresentado abaixo é para alunos de
primeiro ano. Nessa etapa, o aluno estuda na linguagem musical as notas nas
claves de sol e fá na quarta linha, divisão proporcional de valores, tom e
semitom, parâmetros do som e compasso simples. Para a prática desse
conteúdo, escolhe-se músicas que contemplem esse programa. A Ovelha de
Maria é um exemplo dessa coletânea. Nesta canção são usadas apenas as
notas si, lá e sol 3; ritmo em semínimas; trabalhando justamente o som e o
silêncio. O acompanhamento é feito pelo piano, que poderá ser tocado por um
dos professores ou pelos alunos. A percussão é escrita por grupos sendo
distribuída da seguinte forma: triângulo, ganzá e caxixi no primeiro grupo;
pandeiro reco-reco e afuxê, no segundo grupo; jam block, claves e agogô, no
terceiro grupo; e tamborim e bombo, no quarto grupo.
Para os alunos de segundo ano, apresentamos o segundo exemplo.
Nessa fase o aluno está usando as semicolcheias, síncopes e contratempo,
variação das unidades de tempo, linhas suplementares superior e inferior,
semitom cromático e diatônico, ictus inicial e introdução das escalas maiores e
menores. Pode-se observar, através da partitura Dona Nobis Pacem, que as
flautas tocam salto intervalares maiores que os apresentados no exemplo
anterior, o uso de contratempo, de notas com sustenidos e bemóis, figuras
pontuadas e semicolcheias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da experiência de ensino dessa disciplina, percebe-se, mesmo
com as limitações deste estudo, que a disciplina Percussão e Flauta Doce
contribuem para acelerar o aprendizado dos alunos; ajudando na noção da
prática de conjunto, permitindo que interajam. Permite, ainda, que tenham
contato com outros instrumentos e compreendam melhor o conteúdo
ministrado nas aulas de música. Faz-se preciso superar desafios e avançar,
buscando o equilíbrio entre a disciplina proposta e a real, contudo sem perder
de vista os objetivos traçados. Superar os desafios de espaço, instrumental e
de pessoal. Por fim, contribuir para tornar a música um elemento indispensável
na formação cultural e social do nosso estado e do nosso país.
REFERÊNCIAS
AKOSCHKY, Judith & VIDELA, Mario A. Inicion a la flauta Dulce, editora
Ricordi americana, 1989.
ALVES, Rubem. Por uma educação Romântica. Campinas: Papirus, 2002.
CLEMENCIC, René. Grundchule fur die sopran- blockflote, editora Universal,
1967.
MAHLE, Ernst. As melodias da Cecilia- flauta doce ou oboé e piano, irmãos
Vitale, 1972.
FRANÇA, Cecili C.; SWANWICK. Composição, apreciação e performance na
educação musical: teoria pesquisa e pratica. In: Em pauta: revista do
Programa de Pós- Graduação em Música: mestrado e doutorado. Vol.13, n.21,
2002.
MAHLE, M. Aparecida. Meu primeiro caderno de flauta block, editora Vitale,
1959.
MARZULLO, Eliane. Musicalização nas escolas- editora Vozes, 2001.
MASCARENHAS, Mario. Minha flauta doce volume I e II, editora Vitale, 1977.
MOHR, F. Isolde. Método para flauta doce soprano, editora Ricordi (1976),
ROCHA, Carmen Maria Metting – Iniciando a flauta doce, 1986.
TAETS, Thelma Nunes. Iniciação à flauta doce: uma proposta de Educação
Musical / Thelma Nunes Taets. - Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. 124 f. il.; 29 cm.
TIRLER, Helle. Vamos tocar flauta doce, editora sinodal ,1992.
VIEIRA, Edna A.C; VIEIRA, Alice; LEÃO, Eliane. O papel do fazer musical no
ensino regular. Hodie, v.4, n.2, Goiânia: 2004.