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ARTIGO ORIGINAL/ Research report/ Artículo
Revista
- Centro Universitário São Camilo - 2010;4(4):431-436
Dilemas éticos da equipe de enfermagem frente à
ordem de não ressuscitar
Ethical dilemmas of a nursing team before the order for not resurrecting
Dilemas éticos de un equipa de enfermería instruida como para no resucitar
Maria Tereza Soratto*
Francini Silvestrini**
RESUMO: Estudo com abordagem qualitativa, descritiva, foi desenvolvido com 5 profissionais da equipe de enfermagem, que atuam na UTI de um
hospital de médio porte da região do extremo sul catarinense. Teve como objetivo analisar os dilemas éticos da equipe de enfermagem frente à ordem
de não ressuscitar (ONR). A coleta de dados foi feita por meio de entrevista semi estruturada, no período de junho a julho de 2010. A presente pesquisa estimula os profissionais a repensarem os seus dilemas éticos diante de uma ONR; ela nos obriga a revermos principalmente como equipe de
saúde, qual será a melhor estratégia para o bem estar do paciente. O estudo da bioética, enfermagem e a Ordem de Não Ressuscitar pode nos trazer
mais questionamentos e dúvidas pertinentes ao tema do que certezas, mas a reflexão do processo de cuidar deve ser prática cotidiana, é necessário
refletir sobre nossas ações e concepções, refletir sobre o processo de trabalho e do cuidar terapeuticamente exercido pela equipe de saúde, refletir sobre
a ética do cuidado.
Palavras-chave: Bioética. Unidades de Terapia Intensiva. Enfermagem.
ABSTRACT: Study with a qualitative, descriptive, approach developed with five professional female nurses who work in the ICU of a midsize hospital in the southern region of Santa Catarina aimed at analyzing the ethical dilemmas of the nursing staff before a Non Resuscitate Order (ONR).
Data collection was done through semi structured interviews from June to July 2010. This research encourages practitioners to rethink their ethical
dilemmas facing an ONR, and it makes us to review, as a health team, which is the best strategy for the welfare of the patient. The study of bioethics,
nursing and Do Not Resuscitate Orders can bring us more questions and doubts concerning the subject of certainties, but the reflection on the care
process should be a daily practice, and it is necessary to reflect on our actions and ideas, on the process of labor and therapeutic care ofered by the
health team, a reflection on the ethics of care.
Keywords: Bioethics. Intensive Care Units. Nursing.
RESUMEN: Estudio cualitativo y descriptivo desarrollado con cinco mujeres profesionales de enfermería que trabajan en la UCI de un hospital de
tamaño mediano en la región sur de Santa Catarina. El objetivo fue analizar los dilemas éticos del personal de enfermería delante la decisión de no
resucitar (ONR). La colecta de datos se realizó mediante entrevistas semiestructuradas en el período de junio a julio de 2010. La presente investigación anima a los profesionales a reflexionar sobre los dilemas éticos delante una ONR, especialmente en cuanto equipa de salud, en cuanto a cual
es la mejor estrategia para el bienestar del paciente. Aunque el estudio de la bioética, la enfermería y la Orden de No Resucitar puede traernos más
cuestiones y dudas sobre el tema de las certezas, la reflexión acerca del proceso de atención debe ser una práctica diaria, y es necesario reflexionar acerca
nuestras acciones e ideas, el proceso de trabajo y la atención terapéutica ofrecida por la equipa de salud, una reflexión acerca la ética del cuidado.
Palabras-llave: Bioética. Unidades de Cuidados Intensivos. Enfermería.
* Mestre em Educação. Especialista em Saúde Pública – Escola Nacional de Saúde Pública. Professora da disciplina Ética e Deontologia do curso de Enfermagem. Professora do
curso de Fisioterapia da UNESC. E-mail: [email protected]; [email protected]
** Acadêmica da 8ª fase do Curso de Enfermagem da UNESC – Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina. E-mail: [email protected]
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Dilemas éticos da equipe de enfermagem frente à ordem de não ressuscitar
Revista
INTRODUÇAO
Durante a vida profissional podemos observar que
somos envolvidos por aspectos positivos e negativos de
todas e quaisquer decisões ou ações que tomarmos quanto ser humano; diante dessas ações surge valores, a qual
define-se como ética. Então, “ética é o estudo, a analise, a discussão moral do agir humano em determinada
realidade”(p. 237)1.
Podemos concluir então que existe um dilema ético,
quando existe preposições distintas com duas possibilidades de escolha sendo essa difícil para qual optar, gerando
assim duvidas quanto adequação moral1. Neste sentido
observamos que a ética envolve diversos fatores referente
ao valor da ação humana, seja ela uma ação consciente,
racional, e mais importante com liberdade de escolher
e executar suas ações e pensamentos1. Portanto, sabendo
que a ética norteia todo o sentido da vida é que se faz
necessário um reflexão em diversos setores da sociedade,
dentre eles encaixa-se a ciência da saúde, a qual destaca-se
a bioética. Diante das situações muitos outros conflitos
envolvendo a “dignidade” humana podem surgir, como
aborto, fecundação artificial, clonagem, Ordem de Não
Ressuscitar (ONR), dentre outros. Atualmente um dos
assuntos que vem chamando atenção principalmente em
âmbito hospital, nas unidade prestadores de cuidados terapêuticos como as UTI, são as Ordem de não Ressuscitar
(ONR), na qual
são instrumentos que podem ser empregados por
médicos, pacientes, familiares e instituições de saúde,
através de formulários próprios e que tem o objetivo
de orientar o não inicio das manobras de ressuscitarão
cardiopulmonar nos casos que não houver beneficio
clínicos comprovados (p. 1)2.
Perante a situação as ONR ainda causam duvida nos
pacientes e familiares que são expostos a tal fato. A fim de
analisar e entender esses aspectos fez-se necessário este estudo para mostrar o olhar clínico da equipe de enfermagem, com intuito de identificar seus medos, dificuldades,
preservando sempre o seu valor pessoal. Nesse sentido, o
presente estudo tem o objetivo de identificar quais dilemas éticos a equipe de enfermagem demonstra frente as
Ordem de não ressuscitar (ONR) na UTI de um Hospital de Médio Porte da Região Sul Catarinense. Tem-se como questão norteadora: Quais os dilemas éticos da
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equipe de enfermagem frente as Ordem de não ressuscitar (ONR) na UTI de um Hospital de Médio Porte da
Região Sul Catarinense?
REVISãO Da LITERATURA
Atualmente ética em enfermagem vem sendo questionada em diversos concursos públicos pelo Brasil inteiro,
no entanto esse assunto vem preocupando desde tempo de
Demócrito a qual cita “a ética antiga analisava o conceito
da personalidade perfeita, representava um bem supremo.
E os maiores pensadores trataram o problema ético como
tema central de suas preocupações” (p. 23)3. Em uma das
áreas da saúde que a ética sempre esteve envolvida principalmente no processo de vida e morte é com a enfermagem. “Com a evolução e a diversificação das praticas no
setor saúde, emerge a particularidade de diferentes ações
profissionais, entre as quais, os de enfermagem, que por
sua vez fundamenta-se em valores distintos (p. 243)1.
O enfermeiro pode ser convocado a responder pelos
seus atos ou de um outro profissional de enfermagem, a ele subordinado, quando dos mesmos resultarem quaisquer danos ou prejuízos, seja de ordem
física ou moral, ou ambas, porque se tornaram co-autores (p. 77)4.
Hoje em dia, o aumento da expectativa de vida e sobrevida dos indivíduos, que sofrem algum tipo de doença
crônica vem gerando duvidas; perante o avanço tecnológico e aperfeiçoamento da medicina a bioética, “[...]
tem sido muito discutida nas questões de humanização
e bem-estar total nas relações interpessoais e de cuidado”
(p. 69)5. O dilema com tratamentos que aumentam a expectativa de sobrevida, geram conflitos, pois trata-se de
vida, aonde englobam fatores a serem pensados, quando
envolve dimensões da morte, como o morrer, a dor e o
sofrimento5.
“O cuidado com a dor e o sofrimento humano figura
no grande desafio a ser trabalhado pela área da saúde e um
dos objetivos centrais da filosofia dos cuidados paliativos”
(p. 69)5. A ORN podem ser entendidas como formulários
que auxiliam médicos, pacientes, familiares e instituições
de saúde, para o não inicio das manobras de ressuscitarão
cardiopulmonar (RCP), quando o quadro clinico do paciente apontar nenhum beneficio para o mesmo2. Uma
parada cardiorrespiratória pode ser entendida “ como a
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cessação da funcionalidade mecânica do coração confirmada pela ausência de sinais de circulação, sendo essa
uma das principais causas de morte súbita” (p. 354)6 Atualmente percebe-se um grande confronto entre serviços
de saúde e pacientes/familiares, perante as ORN; elas são
de grande confusão, gerando assim um mal entendimento diante dos pacientes e familiares. Aos inserirmos o valor ético sobre as ONR, observamos o sentido proposto
pelo Vaticano, “no que se refere à dignidade do paciente
terminal, destaca a sacralidade e a inviolabilidade da vida
humana em todas as suas fases e em qualquer situação em
que se encontre”(p. 2)2. Existe também a futilidade terapêutica “é definida como a utilização de meios desproporcionais no tratamento dos pacientes e conduz, muitas
vezes, a situações inaceitáveis sob o ponto de vista clinico
e ético” (p. 2)2. Um dos critérios que podem ser utilizados
nas ONR é
o emprego de esforços desnecessários, de custo muitas
vezes elevados e o consequente trauma físico e emocional ao paciente e seus entes próximos, é duvidoso,
marginal ou sem valor em pacientes que estão em fase
terminal de doenças progressivas e fatais,, onde não
existem mais recursos terapêuticos para cura ou aumento da sobrevida (p. 2)2.
A partir dos anos 90 começou a ser incluso as decisões
familiares e de paciente em seus casos clínicos; assim iniciou um confronto perante a sua autonomia, afirmando-se assim que cada paciente tem o direito de escolher o
que é melhor para ele, se vai seguir ou não o tratamento,
sendo que o estado não deva interferir de forma alguma
na decisão a ser escolhida2. Um outro sentido para fundamentos éticos, é a vida em serviço da liberdade, todos
somos livres e temos que de alguma forma aceitar a natureza humana.
Não é eticamente aceitável a decisão de dispor de tratamentos que possam salvar a vida. O paciente deve
ter o direito de poder escolher, entre os vários tratamentos propostos, aquele que mais se aproxima do
ideal para ele, avaliando e sendo esclarecido sobre os
riscos e benefícios de cada um (p. 2)2.
Existem benefícios potenciais da implantação das
ONR, as quais podem ser: evitar a futilidade e todo o sofrimento que ela acarreta; orientação dos profissionais que
atendem o doente durante a PCR; não uso de vagas nas
unidades de terapia intensiva por doentes sem beneficio;
redução dos custos com procedimentos desnecessários;
tomar claro o conceito de proporcionalidade terapêutica2.
Posteriormente podemos abordar algumas dificuldades da
implantação das ordens de não ressuscitar, com isso citamos: ausência de conceitos claros sobre o significado de
futilidade terapêutica e ONR; risco de diminuir a atenção
a outras necessidades mínimas do paciente; dificuldade
dos médicos em conversar sobre a morte com pacientes e
familiares; ausência de normas em centro cirúrgico e UTI
sobre as ONR; diminuir a esperança dos pacientes em
relação ao seu tratamento; generalização desse instrumento em nome da autonomia sem limites2. Enquanto aos
envolvidos nas ONR, podemos concluir que o medico,
paciente e familiares são os grande protagonistas; neste
caso a enfermagem surge como intermediador em certos
momentos, pois consegue captar melhor o desejo dos pacientes devido ao contato constante com o mesmo. Existe
ainda hoje uma grande discussão em relação ao paciente
participar ou não dessa decisão, mas sabemos também
que um dos principais objetivos das ONR é respeitar a
autonomia do mesmo, sendo que ele deva participar de
qualquer decisão que envolva a sua pessoa2. Então devemos ressaltar os conflitos que podem existir nas ONR;
primeiro pode acontecer no momento da tomada de decisão, e isso pode acontecer entre pacientes e familiares,
familiares e médicos, médicos e pacientes, geralmente
isso ocorre devido a falta de comunicação correta entre
os envolvidos; segundo envolve situações relacionadas
as ORN, pois, a partir do momento que é instituído as
ONR, essas devem ser atualizadas diariamente de acordo
com o caso clinico de cada paciente2. Por fim,
as ONR tem importantes implicações éticas. A sua
complexidade impediu que até hoje fossem universalmente aceitas na pratica medica. empregá-las sem
critérios bem estabelecidos podem trazer riscos eticamente inaceitáveis. O respeito à dignidade da pessoa
humana é o valor mais importante e com base nele é
que todas as decisões devem ser tomadas (p. 2)2.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de cunho qualitativo, do tipo
descritivo e de campo. Participaram da entrevista 5 profissionais da área de enfermagem, com enfermeiros e téc-
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nicos que atuavam a mais de 1 ano no setor da UTI. A
UTI envolvida no estudo, possui 9 leitos, caracterizando-se por atendimento a pacientes adultos em estado critico.
A coleta de dados foi realizada no período de junho à
julho de 2010, com realização de entrevista semiestruturada, após Assinatura do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE). As questões das entrevistas foram
dirigidas no sentido de identificar os dilemas éticos e sentimentos da equipe de enfermagem frente à Ordem de
Não Ressuscitar (ONR), realização de anotações no prontuário; discussão da ONR com os familiares e a reflexão
e sugestões da equipe de enfermagem sobre a temática.
A análise das informações foi realizada pelo processo
de categorização dos discursos dos profissionais7.
Durante o desenvolvimento do estudo, foi garantido o anonimato dos entrevistados, conforme normas da
resolução 196/968. A digitação das respostas dos entrevistados foi fiel ao mencionado, identificando os sujeitos
como e1, e2, e3, respectivamente. O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
do Extremo Sul Catarinense – UNESC, com o registro
de numero 124/2010.
cânico, que simplesmente prolongaria a vida do paciente.
O paciente continua recebendo tratamento para alivio
da dor e os profissionais respeitam o processo natural de
morte, provendo todo o suporte terapêutico possível10.
Para o profissional e4, os dilemas éticos enfrentados
em relações as ONR são relacionados ao:
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O sentimento de piedade em relação ao paciente fora
de possibilidade terapêutica possibilita a aceitação das
ONR, conforme as falas descritas:
Caracterização da equipe de enfermagem
Os participantes do estudo possuem idade entre 28
a 35 anos, trabalhando no setor a mais de 1 ano, sendo
3 do sexo feminino e 2 do masculino; 2 são enfermeiros
e 3 técnicos de enfermagem.
Os dilemas da equipe de enfermagem
Em relação aos dilemas éticos e sentimentos da equipe de enfermagem, os profissionais em sua maioria são
a favor das ONR (e1; e2; e5); sendo pouco aceita pelos
médicos inerentes as dificuldades com a perda (e1; e3).
Os dilemas aumentaram a partir do desenvolvimento de novas tecnologias, que compeliu o profissional de
enfermagem a refletir acerca dos seus riscos e benefícios
(p. 18)9.
A eutanásia passiva é a morte do paciente que ocorre dentro de uma situação de “terminalidade”, a qual se
caracteriza pela ausência de possibilidades terapêuticas.
Caracteriza-se por omissão de condutas terapêuticas que
prolongariam a vida humana, não se iniciando uma ação
médica, como o caso de não utilizar um ventilador me-
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Desejo do paciente de morrer ou não; sofrimento pelo
paciente; Ortotanásia. (e4)
A Ortotanásia tem o sentido de morte digna, sem
abreviações desnecessárias e sem sofrimentos adicionais,
morte em seu tempo certo é a arte de morrer bem, naturalmente, com dignidade e sem sofrimento. Simbolizada
pela humanização da morte, alívio das dores e não incorre
em prolongamentos abusivos10.
Os profissionais e3 e e4, referem a perda e sofrimento
do familiar como dilemas éticos e sentimentos pessoais
frente as ONR, como mencionado:
Prolongar o sofrimento, aumentando lesões teciduais,
quando permanece muito tempo acamado, sentimento
por parte da família cuidadora. (e4)
Sempre há um sentimento de piedade em relação as
ONR, mas se não tem mais o que fazer em relação a isso,
não tem porque deixa-lo sofrer. (e2)
Concordo quando o prognostico é muito ruim, ou seja,
quando o tratamento se torna paliativo e o paciente perante seu quadro não tem mais chances de sobrevivência,
só prolonga sofrimento. (e5)
A mais recente definição da OMS estabelece que cuidados paliativos é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares frente a problemas associados à doença terminal, através da prevenção e
alívio do sofrimento, identificando, avaliando e tratando a
dor e outros problemas, físicos, psicossociais e espirituais11.
Segundo e1, o mesmo refere não possuir dilemas referentes ao tema.
A equipe de enfermagem tem boa aceitação da ONR,
nos casos de pacientes em fase terminal e sofrimento (e1;
e2; e3; e5) conforme descrito:
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Boa aceitação, pois conhecem quando o paciente não tem
perspectiva de melhora e ficamos prolongando o sofrimento (distanasia). (e1)
Muito bem, para que prolongar o sofrimento? (e3)
O prolongamento do sofrimento, através da obstinação terapêutica é considerado distanásia. A distanásia significa morte lenta com grande sofrimento, sendo conhecida
como um modo de adiar a morte tornando-a um processo
lento, prolongando a vida quando não há mais esperanças.
Caracterizada pelo prolongamento exagerado e inútil da
agonia, do sofrimento de um paciente, no qual não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer,
por meio de intervenções, ações e condutas terapêuticas10.
As anotações no prontuário
Para o profissional e4 a aceitação da ONR depende
da situação de cada paciente.
Ressaltamos que a maioria dos profissionais entrevistados referem que não são realizadas anotações no prontuário sobre ONR (e1; e2; e3).
Para e4, são realizadas somente anotações no prontuário referente a [...] assistência de enfermagem ao paciente
(e4).
Já para e5, as anotações no prontuário sobre as ONR,
são realizadas, mas [...] não especificamente nessas palavras.
Destaca-se que por referir-se à condição ou estado de
paciente ou à assistência de enfermagem prestada, que são
fatos relevantes, a anotação do prontuário pode tornar-se
fato jurídico por intercorrências, acidentes, denúncias4.
A ONR e os familiares
Perante as respostas dos profissionais e2; e3; e4, as
ONR [...] são discutidas com os familiares. Para e1, as ONR
[...] são muito pouco discutidas pelos familiares (e1).
Para e5, dependendo do medico de sobreaviso as ONR,
são debatidas juntamente com os familiares.
Como sugestões ao tema, a equipe de enfermagem
refere a importância da discussão sobre as ONR, entre
equipe de saúde e principalmente com familiares, conforme manifestado nas falas:
Ser mais discutido entre os colaboradores e médicos e
principalmente com os familiares. (e1)
É sempre interessante discutir sobre isso, mas principalmente com familiares nesta situação. (e2)
Eu sugiro que a ordem deveria ser tomada pela família,
juntamente com a equipe. Onde o medico e a enfermeira
devera deixar a família ciente que a ressuscitarão apenas
prolongará o sofrimento do mesmo e que o óbito não esta
descartado. (e5)
Os fatores que influenciam a tomada de decisão em
momentos complicados para a resolução de dilemas éticos relacionados à reanimação são: o esclarecimento da
família e do paciente, a postura coerente dos profissionais
de saúde envolvidos e ainda a observação dos princípios
bioéticos. Cuidar de pacientes em situação crítica exige
muito mais do que conhecimentos técnico-científicos,
requer a compreensão a fundo de sua individualidade, a
partir de um relacionamento interpessoal de valorização
da pessoa humana contribuindo com o processo de humanização dos cuidados12.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa estimula os profissionais a repensarem os seus dilemas éticos diante de uma ONR; ela nos
obriga a revermos principalmente como equipe de saúde,
qual será a melhor estratégia para o bem estar do paciente.
É de extrema importância identificar quais são as possibilidades terapêuticas do paciente, e evitar dessa forma a
futilidade terapêutica.
A inexistência de protocolos frente ao paciente terminal – fora de condições terapêuticas, é uma preocupação nos ambientes de UTI, pois ocasiona dilemas éticos a
equipe de saúde.
A partir das reflexões realizadas sobre a ONR reporta-se ao final desta pesquisa com outros questionamentos: quais os dilemas e conflitos éticos que a equipe de
saúde enfrenta no processo de morte e morrer do paciente frente à distanásia, futilidade e obstinação terapêutica,
ortotanásia e eutanásia? O que é morte? Como os profissionais enfermeiros se relacionam com o processo de
morte e morrer? Até quando prolongar a Vida? E quando
o tratamento causa mais sofrimento do que benefício?
Como um profissional de saúde que atua em UTIs, tendo em suas mãos a alta tecnologia, deve agir com os pacientes fora de possibilidades terapêuticas e suas famílias
na fase de terminalidade? Na prática hospitalar cotidiana
é possível ao enfermeiro detectar, se seus cuidados estão
prolongando a vida ou adiando a morte do paciente? De
que forma estamos nos preparando enquanto seres humanos, para os dilemas éticos que permeiam a prática
profissional de enfermagem? Quais os valores, crenças e
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atitudes que orientam a equipe de enfermagem no processo de cuidar?
A bioética é uma questão que envolve a vida; ela nos
orienta a refletir, principalmente quando se trata de vida e
morte; o que seria melhor para o paciente? Essa é a pergunta que clama por respostas. A vida é um bem sublime, todos nos almejamos e desejamos cada dia mais vivê-la intensamente; já a morte todos nós temos receio de enfrentá-la,
devido ao desconhecido, ao inesperado. Mas temos a certeza que esse será o destino de todos, e o que podemos fazer
é proporcionar um bem estar maior na hora da “partida”,
proporcionando uma boa morte sem dor e sofrimento.
Deixamos aqui uma questão, na qual a temática sobre
a ONR deveria ser mais discutida entre os profissionais de
saúde. A ONR deveria ser encarada como uma forma de
diminuir o sofrimento da pessoa acometida e não como
uma forma de induzir a morte. Sugerimos que principal-
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mente nas UTI que tratam especificamente de pacientes
críticos, se aborde mais essa questão de ONR, através da
educação continuada a fim de sensibilizar os componentes da equipe de saúde para a reflexão bioética.
O estudo da bioética, enfermagem e a Ordem de Não
Ressuscitar pode nos trazer mais questionamentos e dúvidas pertinentes ao tema do que certezas, mas a reflexão do
processo de cuidar deve ser prática cotidiana, é necessário
refletir sobre nossas ações e concepções, refletir sobre o
processo de trabalho e do cuidar terapeuticamente exercido pela equipe de saúde, refletir sobre a ética do cuidado.
O que fazer quando não a mais nada a fazer? O cuidado
advém como bálsamo da alma e do espírito. O cuidado
humanizado, a integralidade no cuidar, o cuidado solidário entre todos os integrantes da equipe de saúde a pacientes e familiares surge como um novo direcionamento ético ao cuidado terapêutico na qualidade de vida na morte.
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Recebido em: 6 de julho de 2010.
Aprovado em: 10 de setembro de 2010.
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